domingo, 28 de dezembro de 2014

O estudante nos Vedas

Brahmacarya _ o estudante nos Vedas





Cena antiga de guru e shishyas, professor e alunos, na India antiga



A tradição védica estabelece quatro aashramas ou etapas da vida para o ser humano. Cada uma delas se estabelece através de algum ritual que marca esses momentos de transição na vida de uma pessoa.
Esses aashramas são:
Brahmacaarya
Gaarhasthya
Vaanaprastha
Sannyaasa.
Eles podem ser traduzidos por: a fase do estudante, do casado, do aposentado e do renunciante.

Existem rituais bem estabelecidos na cultura védica, chamados samskaaras, para a entrada na fase de estudante e de casado. Samskaaras são rituais que abençoam as pessoas para que tenham força e possam alcançar maturidade para seguir em suas vidas através das conquistas e fracassos, alegrias e tristezas, satisfações e conflitos que serão naturais.

A fase do estudante, brahmacaarya, é bastante enfatizada. De fato vemos em várias culturas, principalmente nas antigas e em tribais, algum ritual de inclusão da criança no mundo adulto. É um ritual de passagem que conscientiza o jovem da necessidade de sua adaptação ao mundo adulto, de desenvolver responsabilidades e de se preparar para participar da sociedade como contribuinte. Dessa maneira, o jovem é vinculado a seus antepassados e a seu grupo social e religioso e prepara-se para ser ele mesmo, no futuro, a conexão com as mais novas gerações, através da etapa do casamento que ocorrerá mais tarde para ele.

Existem vários rituais relacionados a essa etapa, como o Upanayanam, o mais antigo e tradicional, no qual a criança ou o jovem é iniciado em mantras que serão repetidos diariamente, acompanhados de mudraas que são gestos específicos com as mãos. Japa, a repetição de um mantra, ajuda o estudante a conhecer sua mente e a ter controle sobre ela. Até a idade de uns oito anos, a criança somente brinca, sem responsabilidades.

Antes do Upanayanam, outro momento importante é ritualizado, é um ritual mais simples chamado Vidyaarambha, o início do estudo com a alfabetização, e depois o Vedaarambha, o início do estudo dos Vedas, na forma de memorização do seu Veda específico de família e posteriormente o estudo para entender o que dizem os mantras védicos.

Faz parte do ritual Upanayanam o jovem comer em casa uma refeição do seu gosto que será a última que satisfaça seu desejo, a partir do ritual da fase de estudante, ele terá que comer somente o que lhe for dado. No passado, antes das invasões e do domínio estrangeiro na India, esses rituais eram feitos para crianças de ambos os sexos. Atualmente é mais comum serem realizados para meninos, apesar de estar havendo uma mudança em relação a isso.  É o ritual de Upanayanam que dá ao jovem o status de “nascido duas vezes”, dvija.

O ritual é descrito: a noite anterior o rapaz passa em silêncio, na manhã seguinte ele faz uma refeição com a família, a mãe prepara os alimentos do agrado do jovem e depois do banho cerimonial, alguns brahmanas são alimentados; seu cabelo é raspado com a exceção de um tufo; ele  veste roupas simples, dirige-se ao professor e diz que quer tornar-se seu estudante e estudar.O mestre o aceita e lhe dá um pano para cobrir a parte de cima de seu corpo como sinal de respeito em rituais e cerimônias religiosas nas quais participará daqui para frente. É colocado nele um cordão sagrado feito de algodão. Esse cordão, chamado de yajn~opaviitam, será trocado uma vez por ano, numa cerimônia anual, ou em qualquer ocasião em que a troca seja necessária. São na verdade três cordões amarrados por um nó chamado brahmagranthi. Quando o cordão é colocado, um mantra específico é cantado para que o estudante tenha força, vida longa e alcance a libertação final. Quando o rapaz se casa, ele usa mais um conjunto de três fios que seria de sua esposa. O cordão sagrado fica pendurado no ombro esquerdo, mas durante o período de rituais fúnebres para sua família, o cordão é colocado ao contrário, pendurado no ombro direito. Em algumas ocasiões pode ser necessário colocar o cordão, provisoriamente, enrolado no pescoço, como um colar. Depois, um tipo de bengala é dado ao jovem, lembrando que ele é um viajante na vida e desejando que ele possa chegar a seu destino final, a libertação. Então o mestre coloca água nas mãos juntas do estudante, invocando que a água o purifique e que então  possa ser ensinado o Gayatrii-mantram a ele. Após isso, é pedido ao estudante que olhe para o sol; como o sol segue seu caminho continuamente, sem falhar, que o estudante possa também seguir seu dharma. O estudante é aceito pelo professor que toca seu ombro direito desejando que seus corações possam permanecer unidos para que o ensinamento aconteça completa e adequadamente. O discípulo, sendo perguntado, diz seu nome e de quem é aluno. O professor o recebe e pede que os deuses cuidem dele, pois sabe que o sucesso desse empreendimento não depende exclusivamente dele. O estudante dá, então, a volta ao redor do fogo ritualístco e faz os oferecimentos ao fogo. O Gayatrii-mantram é ensinado a ele e repetido três vezes. E então o estudante nasce a segunda vez, tendo o mestre como pai e a deusa Gayatrii como mãe. A seguir, o estudante sai a pedir comida em três casas, lembrando ao jovem que ele depende da sociedade para seu sustento e no final de seus estudos ele será um contribuinte para a sociedade. É pedido a ele que permaneça por um período de três dias sem comer sal, dormindo no chão sem conforto e somente à noite (não durante o dia), no final desse tempo há um ritual para que Medhaa ou Sarasvatii o abençoe com capacitação para o conhecimento.

Este ritual é importante e significativo para o estudante; marca sua vida e o inspira para sempre. 
 
Em diferentes Upanis.ads temos a informação do estudante dirigindo-se ao mestre e a atitude respeitosa e de confiança que é dedicada a ele. S’vetaketu vai para o mestre aos doze anos e permanece estudando por doze anos. Na Taittiriya Upanis.ad, vemos o discurso final do mestre a  seus discípulos que vão embora do gurukulam depois dos estudos e, entre outras coisas, o mestre os orienta a se casarem sem negligenciar o contato com o conhecimento e as disciplinas diárias.

Os Vedas enfatizam a fase do estudante, e em especial do estudante de Vedanta, o conhecimento da parte final dos Vedas, as Upanis.ads que tem como assunto a realidade absoluta, chamada Brahman. Este estudante ou brahmacaarin é também um mumuks.u, um buscador da libertação final chamada de moks.a.  Existem outros nomes significativos que são dados ao estudante, como antevaasin, aquele que convive com o mestre, s’is.ya, aquele que tem a capacidade de estudar, e adhikaarin, aquele qualificado para o conhecimento. Numa escola ou gurukulam para o estudo de Vedanta, o ritual que institui o jovem como estudante, brahmacarin, também é realizado. O estudante recebe de seu mestre um novo nome e um mantra; sua cabeça é raspada com a exceção de três fios (que serão raspados no ritual de sannyaasa ou renúncia final) que representam a ligação única com o mestre, os Vedas e Deus, todas as outras ligações e apegos são deixados de lado; depois ele recebe uma banho cerimonial que visa libertar o jovem de todo o paapam (ações negativas) cometido por ele até então; seu corpo e mente tendo sido purificados, ele recebe um cordão de algodão que é usado do ombro esquerdo até bem embaixo da cintura do lado direito de seu corpo. Esse ritual vincula o estudante de Vedanta a seu mestre. É uma oportunidade para que a pessoa possa afirmar seu desejo pelo conhecimento que lhe dará a libertação final, moks.a, e possa estabelecer seu compromisso com uma vida de estudos e meditação, com a atitude de karma-yoga ao fazer as ações que devem ser feitas e receber os frutos que advém delas sem reagir, como também com a atitude devocional de apreciação de Iis’vara e deliberado relacionamento com Ele.

Um ritual é a oportunidade de reconhecer momentos cruciais de mudança na trajetória do ser humano e oficializar esses momentos, relacionar a pessoa a outros de seu grupo social e receber seu apoio, ungir a pessoa para que ela possa viver plenamente esta nova etapa e crescer, amadurecer plenamente, encontrando significado, suporte e satisfação na vida.

Analisando psicologicamente a vivência de um estudante de Vedanta num gurukulam, vemos que o ambiente é semelhante ao de sua família de sangue. O mestre é o pai e a mãe, ou pode ser visto como o pai e Gayatrii Devi (e as muitas disciplinas de sua vida meditativa) são a mãe; os outros estudantes são seus irmãos. A família do mestre segue o mesmo modelo de família onde há proteção, aprendizado e capacitação para enfrentar a vida adulta. O estudante deseja a atenção do mestre e a compreensão dos colegas, algumas vezes competindo com eles. Ele tem no gurukulam a oportunidade de rever suas emoções, seus desejos e suas vaasanas, as tendências adquiridas. Será uma oportunidade de amadurecer emocionalmente e de desenvolver vairaagya, desapego, e svaatantrya, a capacidade de governar a si mesmo e sua vida com independência, seja casando-se ou seguindo a vida de renúncia, sannyaasa. Na etapa de casado, a pessoa trabalha, tem filhos e contribui de várias maneiras para a sociedade. Em vaanaprastha, a fase do aposentado, que começa por volta de sessenta anos de idade, a pessoa continua a apoiar sua família, mas começa a se retirar de suas obrigações que são assumidas pelos filhos. Por fim, os sannyaasins ou renunciantes vivem uma etapa de suas vidas onde há a oportunidade de renunciarem completamente às obrigações e preocupações relativas à sociedade e às suas famílias e o direito de dedicarem-se à vida espiritual.

As quatro etapas da  vida são aconselhadas para todas as pessoas; poucos conseguem renunciar sem terem passado pela vida de  casado! Cada etapa tem suas conquistas e maturidades e conduz a pessoa à conquista final da vida humana que é moks.a, a liberação final de todo sofrimento através do conhecimento de sua natureza eterna e livre de qualquer limitação.

Por fim o estudante pede a autorização e as bênçãos do mestre para sair do gurukulam e seguir sua vida. O mestre o abençoa e o estudante dá uma dakshinaa, uma doação na forma de vacas, terras, ouro etc. Nenhuma doação é considerada excessiva pois a doação de conhecimento é uma grande bênção e é o diferencial na vida de uma pessoa.

Om tat sat
Gloria Arieira

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Felicidade - uma mente em paz

FELICIDADE - UMA MENTE EM PAZ


Extraído das palestras de Swami Chinmayananda

"Quando buscamos a felicidade fora de nós, a beleza sutil do que há dentro de nós é facilmente negligenciada".


Sri Swami Chinmayananda



O universo contém vida. Não importa se aquela energia animada que chamamos vida esteja numa planta, num animal ou numa pessoa; ela é a mesma. Todas as coisas vivas têm, pelo menos, uma coisa em comum: a centelha de energia que a fazem existir, sem a qual elas seriam apenas matéria inerte. Essa centelha de vida transforma a matéria inerte em coisas vivas e sensíveis.

Essa força de vida se expressa nos humanos através das percepções e ações do corpo físico, dos sentimentos ou emoções e dos pensamentos no intelecto. Sem vida, nós não vemos, ouvimos, sentimos, cheiramos, provamos, pensamos ou agimos. Mas quando temos vida dentro de nós, temos uma idéia (um pensamento) que se transforma em desejo (um sentimento) dentro de nós e então passamos a fazer as ações necessárias para satisfazer aquele desejo.

Os impulsos para a ação

Todas as nossas ações diárias parecem sair de dois impulsos básicos: 1- o desejo de experienciar maior felicidade na vida satisfazendo vários desejos e 2- o desejo de evitar aquelas situações ou circunstâncias que nos trazem sofrimento físico, mental e emocional.

Todos nós procuramos felicidade e tentamos evitar o sofrimento. Ninguém gosta de trabalhar duro para trazer desapontamento, frustração e desespero para sua vida. Nós podemos, então, com segurança, assumir que "a procura de uma existência feliz" é um objetivo comum para os seres humanos.

A vida, então, pode ser vista como uma cadeia contínua de eventos, bons e maus, desde o nascimento até a morte. Cada um de nós está tentando criar o maior número possível de elos, de experiências que sejam prazerosas e satisfatórias dentro dessa cadeia. No entanto, cada um realiza essa tarefa de maneira diferente, de acordo como o que parece ser o mais agradável e apropriado naquele momento. Nós nos movemos ao longo dessa cadeia em direção às circunstâncias perfeitas, nas quais seremos completamente felizes e seguros. Mas, na maior parte das vezes, vemos que, quando achamos que conseguimos manipular nossas vidas até bem perto de nossos sonhos, nossas necessidades mudaram. Nossos desejos antigos e conceitos de felicidade foram ultrapassados, da mesma maneira que os brinquedos antigos de uma criança ficam ultrapassados.

Comumente descobrimos que nossa busca externa pela felicidade permanente, além de ser infrutífera, pode até ser fonte de descontentamento em nossas vidas; estamos sempre vivendo a ansiedade da antecipação, a ruptura e a fadiga da busca, a insatisfação com que conseguimos (se e quando conseguimos), o medo de perder uma vez conquistado, e a dor atrelada à perda verdadeira que deve inevitavelmente ocorrer (já que, quando morrer, você não poderá levar consigo aquilo que conseguiu).

Se conseguirmos ver que a felicidade permanente não está, necessariamente, num conjunto de circunstâncias ou objetos materiais, então, deveremos procurar em outro lugar.

A felicidade e a mente quieta

Se pararmos um instante e perguntarmos: "Qual é o fator comum para todos os nossos momentos felizes em nossas vidas?", descobrimos que é uma mente quieta, o que quer dizer uma mente completamente satisfeita e plena com a experiência daquele momento. Tal mente não está dispersa, procurando por algo mais; ela está satisfeita, apreciando o momento presente e as circunstâncias correntes. A felicidade equipara-se a uma mente quieta. O contentamento anda de mãos dadas com a paz mental. Pense: nesse mesmo instante em que experienciamos felicidade, não estamos conscientes da dor em nossos corpos, nossas emoções não estão ferozes e tempestuosas e nossas mentes não estão fervendo com idéias intelectuais. Não nos sentimos compelidos por desejos; estamos satisfeitos para apreciar a experiência do momento.

Esse fato não significa que precisamos ser inativos para usufruir da felicidade. Ao contrário, essa experiência de completude, felicidade e satisfação está disponível para nós entre as mais dinâmicas aventuras e empreitadas. A felicidade, portanto, parece ser uma experiência puramente subjetiva ou pessoal, como com qualquer casal - em que um seja fumante e o outro não fumante - poderia testemunhar. O que é prazer para um é sofrimento para o outro. O traço comum na felicidade de cada um parece ser um estado da mente que inclui, pelo menos, um contentamento passageiro, com relação à situação e circunstância do momento presente.

A felicidade equipara-se a uma mente quieta, uma mente disponível para experienciar de maneira completa o momento presente, sem ficar vagando entre os "queria", "devia" e "poderia". Felicidade é a qualidade do entendimento completo e a apreciação das circunstâncias da vida no momento presente, enquanto elas estão em frente a você, e a experiência de satisfação no presente, quer as circunstâncias se encaixem nas suas expectativas e desejos ou não. É saber a verdade que a vida no momento presente é do jeito que é, e que a satisfação com a vida não é dependente de circunstâncias externas. Apesar das gratificações sensoriais poderem oferecer momentos passageiros de prazer, a satisfação é uma experiência que vem de dentro e na busca externa pela felicidade, essa sutil beleza interna é facilmente negligenciada.

Considere a experiência de perder um molho de chaves. Procuramos freneticamente por elas pela casa inteira. Quanto mais procuramos, mais agitados ficamos; e quanto mais agitados ficamos, mais perdemos nosso equilíbrio e discriminação racional e nossa mente começa a ficar sem controle.

"Oh! Vou me atrasar!"

"Oh! Não vai dar para...."

"Oh! Vou ter que chamar..." etc., etc.

E então, quando damos uma parada para respirar, vemos que as chaves estavam no nosso bolso o tempo todo.

Da mesma forma, quando paramos de buscar a felicidade do lado de fora (correndo atrás de objetos materiais que achamos que nos farão felizes), descobrimos o potencial de felicidade dentro de nós. Começamos a ver beleza e propósito em volta de nós. Vemos tudo de uma nova perspectiva. Aprendemos a ver o lado bom de nossa situação, qualquer que seja, e usufruir do que temos "aqui e agora" em vez de constantemente estarmos insatisfeitos e querendo que a vida seja diferente - que ela seja mais, menos ou simplesmente diferente. Se alguém nos oferece meia maçã, não ficamos desapontados pela parte que está faltando, mas gratos pela metade que conseguimos.

Lógica e experiência nos dizem que nunca poderemos encontrar felicidade permanente no mundo exterior a menos que a encontremos primeiro em nós. Todos sabemos, pela experiência, que quando sorrimos para o mundo, o mundo nos sorri de volta e que, se procurarmos por problemas , eles virão. Conforme a mente, assim será o mundo. Se estamos cheios de amor, felicidade e satisfação, o mundo refletirá essa harmonia.

O que é o sucesso?

O que é o sucesso?
Swami Dayananda

Todos devem ter ambições, e a ambição em si mesmo não é de fato o problema. Mas, quando uma pessoa, devido à sua ambição, ultrapassa as normas e começa a comprometer os valores, não há então limite para ela -- há ganância e avidez. Quando os valores são considerados, a ambição deixa de ser um problema.

O Senhor Krsna se diz ser a “ambição que não contradiz o dharma” (dharmaviruddho bhuteshu kamo'smi bharatarshabha).





Sri Swami Dayananda




O sucesso é compreendido em termos daquilo que foi adquirido por uma pessoa. Em geral é dinheiro. Se a pessoa tem alguns desejos predominantes e pode preenchê-los, ela, então, nesta visão, é uma pessoa de sucesso.

Sucesso na visão de terceiros não pode, de fato, ser considerado sucesso. Você só é bem sucedido quando pode dizer “eu sou bem sucedido” e para isso você precisa preencher as suas próprias ambições.

Nenhum ser humano pode mudar um outro ser humano, a menos que a outra pessoa deseje mudar. Ninguém pode obstruir uma pessoa que deseje mudar e  ninguém pode mudar uma pessoa que não deseje mudar. Nós queremos que certas pessoas mudem, que os políticos mudem, que a cultura mude etc. Todas estas ambições não poderão jamais ser preenchidas. Na infância, uma pessoa cultiva um certo número de desejos ou ambições que nós gradualmente reduzimos, nos conformando por fim com algo menos (do que o nosso desejo original). Sendo que as ambições e desejos não preenchidos é que constitui o âmago da personalidade. No interior do indivíduo, da sua personalidade, existe uma pessoa chorosa, confusa, derrotada e, portanto, ninguém pode dizer que ele é um sucesso.

A Gita reconhece que, na mente de cada um, sem exceções, existem gostos e aversões. Ambos são desejos. Existem desejos de conquistar e manter. Existem desejos de evitar e libertar-se do que é incômodo. Se você deseja ser bem sucedido através do preenchimento de todos os seus gostos e aversões, você será então um fracasso, e seus gostos e aversões não preenchidos não o deixarão em paz com você mesmo.

Se a pessoa está à vontade consigo mesmo, só então ela é bem sucedida. Não é possível descobrir esta tranqüilidade através do preenchimento de todos os seus gostos e aversões. Se a pessoa conseguir gerenciar seus ragas e dvesas (gostos e aversões), poderá desfrutar desta tranqüilidade.

Krshna, na Gita, não diz “faça isso” e “não faça aquilo”. Ele diz que, com referência a atividade, você tem escolha. Você tem ambições e algumas delas você pode escolher preencher, e para isso vai precisar engajar-se em algumas ações. Karma produz phala (fruto) e phala não pode ser evitado. Isto é rta (é certo). Você pode neutralizar o fruto somente sendo inteligente. Além de agir, você precisa aprender a gerenciar. O problema não está em acalentar desejos ou ter ambições. Todos estão limitados pela espectativa dos resultados. Quando o resultado vem, começam então os problemas. Uma pessoa torna-se bem sucedida ou fracassada não devido às suas ambições. Se as ambições não realizadas a tornam triste ou frustada ou a fazem perder a objetividade, ela, então, é um fracasso. Já no caso de uma outra pessoa que tenha aprendido a gerenciar os seus desejos, ela será bem sucedida; e poderá ter mais alguns novos desejos, pois sabe como gerenciá-los. Portanto, uma pessoa que sabe gerenciar seus desejos é bem sucedida na vida.

Quanto aos resultados das ações, existem quatro possibilidades. O resultado pode ser mais do que o esperado, pode corresponder ao que era esperado, pode ser menos do que o esperado ou pode ser exatamente o seu oposto. Se a pessoa puder tomar todos os resultados possíveis e absorvê-los, ela então é bem sucedida. Bhagavan Krshna na Gita torna claro que uma pessoa é karma- hetu (a causa da ação), mas que Ele mesmo é karma-phala-hetu (a causa do resultado da ação). As leis de Ishvara provêem o resultado. A pessoa pode recebê-lo como prasada, alegremente. Assim, gostos e aversões não criam qualquer problema. Você aprenderá, depois de algum tempo a gerenciar seus gostos e aversões.

Uma pessoa capaz de gerenciar os seus desejos é uma pessoa bem sucedida; uma pessoa que permite que seus desejos gerenciem sua vida estará sempre lutando para ser bem sucedida.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

felicidade, o prazer

A felicidade, o prazer





É necessário paciência. Poder esperar e curtir plenamente cada momento, o momento presente.

Vedanta diz que a experiência de felicidade, de prazer, tem 3 momentos, denominados de priya, moda, pramoda.

Priya é a felicidade que ocorre quando se pensa em algo amado, apreciado, desejado. Moda é a felicidade adquirida quando o momento para o encontro com o objeto amado está marcado e será em breve. Por fim, pramoda é a felicidade do momento do encontro. O momento em que todos os desejos, as expectativas, as fantasias e o querer chegam ao fim. E, então, a pessoa consegue relaxar totalmente, estar consigo mesma sem agitação. É o momento de paz, de satisfação ou plenitude total. Mas, com paciência, cada momento tem sua beleza, seu prazer. Há de se ter paciência, pois se permitirmos que a inquietude tome conta da mente, tentaremos pular as etapas. E será, então, como um cão beagle que adora comer, mas está sempre tão ávido, que nunca aprecia o que está a comer; se prepara com ansiedade para o que parece vir a seguir, e nunca consegue se saciar!

Com a pressa do momento atual só ambicionamos pramoda. Para, a seguir, projetar novo encontro rápido com novo objeto – impacientemente.
O Kama Sutra, que ensina sobre o prazer, propõe o exercício da paciência (como tapas ou disciplina) para que a felicidade possa ser saboreada plenamente. Como parte da tradição védica, afirma que a paz, que é a satisfação plena, já é nossa. Sem conseguir entender isso e no afã de conquistar a felicidade, querendo agir sem gastar tempo a pensar, saímos atrás de qualquer coisa que brilhe para nossos ávidos sentidos e...que pena!... não conseguimos apreciar o momento presente. Um grande exercício (tapas) é com certeza a paciência.

Gloria Arieira

Dezembro 2014

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Satsanga com Swamiji - Agosto 1993

AGOSTO/1993
SATSANGA COM SWAMI DAYANANDA - A ATENÇÃO



P. Swamiji, o senhor afirmou que a atenção é essencial para qualquer disciplina, para que qualquer trabalho seja feito em nossas mentes e para o autoquestionamento. Como podemos desenvolver essa atenção?
Swamiji - A atenção é uma capacidade. Por conseguinte, desenvolvê-la é como adquirir qualquer outra capacidade, como por exemplo a natação. Aprendemos a nadar, nadando. Aprendemos a dirigir, dirigindo. E nos tornamos alertas, mantendo-nos alertas.
Antes que qualquer capacidade seja adquirida, existe um tipo de aprendizado a ser exercido. Quando estamos aprendendo a dirigir, por exemplo, existe um instrutor sentado ao nosso lado e um aviso "motorista em treinamento" assinalando o carro, de modo que todos nas ruas cuidarão de manter uma certa distância. Desse modo, dentro de um período de tempo, adquirimos a capacidade de dirigir.
Aqui, também, começamos por tornar-nos alertas em áreas onde habitualmente não o somos. Principiamos pela área comportamental, porque este é um campo onde a capacidade de permanecermos vigilantes pode ser desenvolvida. Há certos aspectos mecânicos do comportamento a respeito dos quais conscientemente tornamo-nos cônscios. Em outras palavras, principiamos apenas evitando as ações que denunciam nossa condição de sermos mecânicos, como a inquietação.
A inquietação acontece devido a algo na mente que se expressa mecanicamente em algum movimento externo do corpo. Todos nós já vimos pessoas sentarem-se, sacudindo uma das pernas enquanto conversam. Geralmente, isso é considerado como sendo um maneirismo, mas todos os maneirismos são, em verdade, problemas, porque representam expressões mecânicas da mente. Não há nenhum pensamento envolvido, nenhuma expressão consciente.
Por essa razão, iniciamos por esses maneirismos, essas ações mecânicas. Ou os fazemos cessar como um todo, ou convertemo-los em ação consciente. Podemos até sermos conscientes do abrir e fechar de nossas pálpebras, a menos que, naturalmente, alguma coisa caia em nossos olhos inesperadamente.
Há um renunciante em Rishikesh que tornou-se bastante famoso por controlar o piscar dos olhos. Ele senta-se frente ao Laksmanjhula Temple, assim chamado porque é dedicado a Laksmana, irmão de Rama, e devido à ponte giratória, feita de cabo de aço, que devemos cruzar para alcançá-lo. Porque a área é pitoresca e tem grande número de atrações, atrai muitos peregrinos e turistas .
Este renunciante tem por vestimenta apenas uma pequena peça de roupa circundando sua cintura, seu corpo nu é recoberto com cinzas, e seus longos e emaranhados cabelos são presos de um modo bastante incomum. Tem uma barba comprida e embaraçada e unhas muito grandes. Ele é a representação de um Yogi  tradicional, completado com um bastão na forma de "T", no qual se apoia durante seus longos períodos de meditação.
Ele olha diretamente para as pessoas e não pisca. Este tipo de controle demonstra que ele é uma pessoa de grande disciplina.
Acreditando tratar-se de um grande Yogi, as pessoas lhe dão dinheiro. Naturalmente, o não piscar, apenas mantendo os olhos abertos e olhando, é definitivamente uma conquista, para a qual esse renunciante batalhou. É uma disciplina e ele é bom nela. Mas essa conquista não significa necessariamente que sua mente seja iluminada. Ele pode ser apenas um mendigo atento nessa área específica. Tornar-se atento e assim permanecer é uma disciplina, nada mais.
Controlar o piscar dos olhos é uma coisa muito difícil de fazer-se. E se isto pode ser feito, então qualquer outro movimento pode, da mesma forma, ser controlado. Não estou sugerindo que vocês permaneçam olhando fixamente as pessoas todo o tempo. Estou apenas dizendo que isso implica em atenção e habilidade de controlar os movimentos mecânicos do corpo. Assim, podemos começar com simples maneirismos.
Certas formas de meditação são também úteis para desenvolver-se a atenção. Testemunhar seus pensamentos pode ajudar porque, assim fazendo, você se torna consciente dos cursos do pensamento, e uma vez você esteja ciente dos cursos do pensamento, não mais haverá pensamento mecânico e qualquer expressão será uma ação consciente. Entretanto, para alcançarmos isto, precisamos valorizar a atenção e a expressão consciente.
Atenção ou mente alerta e expressão consciente implicam também em ser cuidadoso a respeito do que falamos porque o órgão da fala é também um órgão de ação. Por isso, as plavras podem igualmente tornarem-se mecânicas. Isto significa que podemos escolher nossas palavras, o que não quer dizer que deveríamos recorrer a falar muito vagarosamente. Podemos permanecer alertas independentemente da velocidade que mantemos ao falar. Essa atenção é uma disciplina. Dizemos o que queremos, o que requer falar sempre que necessário. Falar pode ser tanto uma via de escape como uma necessidade. Se acharmos que temos que conversar com alguém, é bom conversar; deveríamos, porém, fazê-lo conscientemente. O falar consciente não é problema. Conquanto o valor por uma mente alerta é geral, as áreas com as quais precisamos ser mais vigilantes é uma questão pessoal. Por conseguinte, cada pessoa tem de determinar que áreas requerem maior atenção, e então tentar permanecer cônscio de suas ações e reações nessas áreas.
P. Swamiji, como se pode evitar a possível armadilha de não desenvolver a atenção, porque um comportamento mecânico foi substituído meramente pelo outro?
Swamiji - Não é possível substituição. Você simplesmente permanece atento ao que está fazendo. Você não substitui alguma coisa estando alerta. Suponha que uma pessoa fale muito e, então, reconhecendo que esse tagarelar é uma fuga, ela abandone o falar e comece a comer em demasia. Isto é uma substituição e é um outro problema. Aqui estamos falando em atenção. Quando falo muito, estou simplesmente atento a este fato. Ou quando como muito, estou atento a este fato. Substituição, absolutamente, não entra nesse quadro. Se acho que algo não está de acordo com meus padrões de atenção, eu o altero. Substituição diz respeito a hábitos, enquanto que atenção é em referência a um determinado hábito.



Templo de Dakshinamurti no ashram de Swamiji nos Estados Unidos




terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A relevância do estudo de Vedanta



Muitas coisas tornam-se obsoletas, ultrapassadas e passam a ter valor para nós somente em museus ou na memória das pessoas.  Uma vitrola, por exemplo, e seus discos de vinil. Mas outras são eternamente atuais como o conflito humano. Desde sempre nos deparamos com uma pessoa ou um grupo arrogante, dominador, egoísta e, em oposição a este, outros que não o aceitam e se opõem. Existem também conflitos internos. Um desejo forte que impulsiona à ação em oposição à certeza de que esta não é a ação certa a ser tomada. O estado mental traduzido por: ”Eu gostaria mas não devo!”   A mente humana é muitas vezes palco de conflitos, oposições, dúvidas e frustrações.

Vedanta nos fala sobre a natureza essencial do indivíduo que é eterna e plena, fonte de toda felicidade.  E para que possamos apreciar esta verdade apontada com clareza por textos antigos como a Bhagavadgita e as Upanishads, faz-se necessária uma mente relativamente calma, livre de reações, que usufrui de uma certa satisfação e capacidade de viver no mundo exatamente como ele é.  Para isso, para nos ajudar a conquistar esta mente preparada para o autoconhecimento, o mestre Krishna nos fala sobre Karma Yoga. Yoga é um estilo de vida apresentado na Gita que abrange o autoconhecimento, no contato direto com o seu (ou sua) mestre, e uma vida, mesmo que seja inserida no movimento de uma grande cidade, consciente de suas ações e reações, objetivando uma mente objetiva e clara.

Vedanta e Yoga existem sempre juntos na tradição dos Vedas, e isso fica muito evidente no estudo profundo da Bhagavadgita.

Vedanta e a vida de Yoga acabam com o conflito relativo da mente e o conflito fundamental criado pela ignorância relativa a nós mesmos.


Gloria Arieira

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Dharma por Sri Swamiji


Que é o Dharma?

Swami Dayananda Saraswati








A palavra dharma é derivada da raiz sânscrita dhr, que tem certo número de significados, sendo os principais "existir, viver, continuar" e "segurar, suportar, sustentar". A própria palavra dharma acabou sendo usada numa larga variedade de sentidos, a maioria relacionados com as traduções mais comuns: retidão, virtude, dever.
Num sentido mais amplo, dharma refere-se à natureza ou caráter do que quer que seja. Nessa ordem de idéias, é possível falar do dharma de um objeto inanimado, ou de plantas e animais. O dharma, ou natureza, do fogo é proporcionar calor e luz. O dharma de uma vaca inclui dar leite e pastar. O dharma da vaca não inclui ficar à espreita e matar presas.
A natureza do ser humano, como ensina o Vedanta, é a plenitude absoluta. E é em relação ao indivíduo que não reconheceu sua própria plenitude que dharma pode ter diversas mudanças de significado.
Todos os objetivos que alguém procura na vida cabem em quatro categorias: segurança, prazer, dharma e liberação. Os desejos de riqueza e segurança e de prazeres sensoriais são compartilhados por todos os seres vivos. Quando se trata de animais, a busca desses bens é governada pelo instinto. A vaca masca a grama por instinto, não por escolha. Toda ação envolve escolha de finalidades e meios para atingir um dado objetivo. Cada um pode agir em harmonia com sua natureza, em contato com outros indivíduos ou dentro da sociedade, ou pode não fazê-lo. Assim, para o ser humano, são valores que governam as ações ou a busca de segurança e prazer. Uma vez que valores são sujeitos a variações e mudanças, cada um deve ter um conjunto de linhas de conduta que governe seus valores.
Esse conjunto - ética - é chamado dharma. Dharma inclui tanto uma ética do bom senso, escolher minhas ações de maneira a não agredir os outros, como uma ética religiosa, que diz não me ser possível escapar dos resultados das minhas ações. Ações corretas ou incorretas levam a resultados conseqüentes, seja nesta vida ou depois dela.
O quarto objetivo desejado - o que dá fim a todos os demais desejos e objetivos - é moksha, a liberação. Liberação e reconhecimento da própria natureza como plenitude e totalidade. A pessoa liberada, como um ser pleno, não tem mais desejos e sua vida só pode estar em harmonia com tudo que a cerca. É um exemplo vivo de dharma a ser seguido por todos. Até que se alcance essa plenitude, as leis do dharma se mantêm como linhas de ação que norteiam a vida. Vivendo uma vida reta e virtuosa, a pessoa prepara a mente para receber o ensinamento que lhe trará moksha.

Cursos de Vedanta fora do Rio


Cursos da Profa Gloria Arieira fora do Rio de Janeiro



Gloria, Miguel e Joana, Lisboa, Portugal 2014





Fevereiro
dias 7 e 8 
Belo Horizonte, MG - a convite de Eliana Furtado [elifurtado@terra.com.br]

Março
dia 28
Campinas, SP - a convite de Márcio Assumpção [yogaterapia@terra.com.br] 

Abril


Maio
dia 9
SP, SP - a convite de Vicente Morisson, Andrea Palma e Renata Mendes

Junho  
dia 13
SP, SP - a convite de Vicente Morisson, Andrea Palma e Renata Mendes

dia 27
Campinas, SP - a convite de Márcio Assumpção [yogaterapia@terra.com.br] 

Agosto
dia 10 a 15
Semana de Vedanta – Itaipava, Rio de Janeiro

dia 29
SP, SP - a convite de Vicente Morisson, Andrea Palma e Renata Mendes


Setembro 
dia 11 a 13
Mariscal, SC - a convite de Fig [ashvatthayoga@gmail.com]

dia 26
Campinas, SP - a convite de Márcio Assumpção [yogaterapia@terra.com.br] 


Outubro  
dia 24 e 25
Salvador, BA - a convite de Adrian e Luzia [yogasantosha@gmail.com]


Novembro

dia 13, 14 e 15
Curitiba, PR - a convite de Luciano e Mariele [lsgiorgio@hotmail.com] [marielemunhoz@hotmail.com]

dia 28
Campinas, SP - a convite de Márcio Assumpção [yogaterapia@terra.com.br]


Satsanga e Puja 2015

O Vidya Mandir oferece um encontro informal mensal. 

Uma vez por mês temos satsanga e puja geralmente na primeira terça-feira do mês.

Nas sextas-feiras temos puja para Sarasvati.





Satsanga: (aberto a todos)

Cantos e Puja toda primeira terça-feira do mês, às 19h

Janeiro - dia 13

Fevereiro - dia 3

Março - dia 3

Abril - dia 7

Maio - dia 5

Junho – dia 2

Julho – dia 7

Agosto – dia 4

Setembro - dia 1

Outubro - dia 6

Novembro - dia 3

Dezembro - dia 1


Bhajans e Puja para Devi toda sexta-feira, às 19 h



Festivais Hindus

Festividades 2015








Janeiro
Dia 15 - Makara Sankranti

Fevereiro
Dia 18 – Mahashivaratri

Março
Dia 28 – Rama Navami

Abril
Dia 4 - Hanuman jayanti
Dia 23 – Shankaracarya jayanti

Maio
Dia 2 – Narasimha jayanti

Junho

Julho
Dia 31 - guru-purnima

Agosto

Setembro
Dia 4 – Krshna janmastami
Dia 17 – Ganesha caturthi





Outubro
Dia 13 – Navaratri começa
Dia 19 – Sarasvati puja
Dia 20 – Durga ashtami
Dia 21 – Maha navami
Dia 22 – Vijaya dashami

Novembro
Dia 10 – Dipavali – Lakshmi puja day

Dezembro
Dia 21 – Gita jayanti





Semana de Vedanta 2015

Semana de Vedanta


Lanche da tarde

Puja e cantos

Aula de Vedanta




Este ano a Semana de Vedanta será do dia 10 de agosto, segunda-feira, ao dia 15 de agosto, sábado.

Local: Hotel e pousada Albergo del Leone
Itaipava - Petrópolis - Rio de Janeiro
Tel.: 55.24.2222.3359
http://www.albergodelleone.com.br

Programação:

Vedanta
Sânscrito
Cânticos
Simbolismo
Meditação
Prática de Yoga
Atividades extras
Satsanga

Yogasutra 2015

Yogasutra à luz de Vedanta
com a profa Gloria Arieira







Sábados de 9 horas às 12 horas

Janeiro
dia 31

Março
dia 7

Abril
dia 25

Agosto
dia 1

Outubro
dia 3

Dezembro
dia 5

Curso Intensivo 2015

Curso Intensivo

Janeiro 2015
Sábado dia 24 de janeiro de 2015
Curso intensivo com a profa Gloria Arieira
"O desejo, a renúncia e o dharma"

Programação

Programação de fim de ano 2014

- Dezembro
dia 18, quinta-feira, 19 horas
dança indiana em nossa sede
dançarina: Ana Claudia Silvestre
estilo: Bharata Natyam
tema: os nove planetas - Navagraha

dia 20, sábado, 17 horas
festa de encerramento
Puja
Cantos
Os nove planetas
dança indiana: Ludymilla van Lammeren

Lindo artigo de Swamiji

A FORMA E O ESPÍRITO DA TRADIÇÃO VÉDICA
 Por Swami Dayananda Saraswati


Sri Swami Dayananda Saraswati




O conflito entre as necessidades atuais de uma sociedade e certas tradições legadas a esta mesma sociedade, é um problema permanente. O quanto nós temos de eliminar e o quanto deve ser conservado é sempre um problema. Em qualquer sociedade, seja ela uma cultura ocidental, européia, ou na cultura de uma vila Indiana, este problema estará sempre presente. E o que nós em geral constatamos, é que o que nós eliminamos é a forma. O significado nós não podemos eliminar.

Por exemplo, quando você cumprimentava uma outra pessoa à alguns anos atrás neste país, eu suponho que você não fosse dizer, “Oi.”. Era provavelmente “Como vai você?” a maneira de se cumprimentar uma outra pessoa. Este “Oi!” é uma forma nova. Isto não tem nada a ver com a forma original  “Como vai você?” Mas há uma certa atitude neste  “Oi.” Há uma afetividade, uma certa acolhida e reconhecimento da sua presença. E há uma alegria manifesta, eu lhe encontro e estou feliz. E  por isso eu digo, “Oi.” Neste “Oi” o significado é o mesmo quando você diz “Oba!” ou quando você diz: “Como vai você?” Ao passo que a forma, uma simples forma, segue se transformando.

Na mudança da forma, o quanto nós devemos mudar?  O quanto devemos conservar? Nas cidades por exemplo, com tantas pessoas lá vivendo, várias formas mudaram. A antiga maneira de se viver já não existe mais. Naturalmente nós precisamos mudar as formas. E agindo assim, nós deixamos para trás uma série de coisas. Nós temos empregado várias formas e isto irá continuar. Mas no processo, algumas vezes a forma muda tanto que o próprio  significado, o espírito se perde. E sem uma forma, o espírito também não é reconhecido.

Quando o corpo está morto, a alma que estava ocupando aquela moradia específica denominada corpo físico foi-se embora. E aquele corpo já não mais é um corpo apreciável. O que é deixado é para ser enterrado. O espírito desapareceu, e uma forma sem espírito é uma carcaça. De maneira semelhante, nós temos formas religiosas que são carcaças mortas, pois já não há  nenhum espírito instilado nelas. Se a forma em si mesma não está presente, o significado se perde, e se o significado não estiver presente, a forma está morta.

Portanto, você precisa necessariamente ter uma forma junto com o espírito, e o espírito  nunca deve mudar. Isto é que é o espírito. Um espírito que se transforme não é de fato o espírito. Qualquer coisa que tenha como base um fato eterno, eterno, deve ser um espírito que permaneça. Aquele espírito somente permanece, enquanto as formas seguem se transformando. 


Todos nós mudamos; mesmo o Swami mudou bastante. Eu estou usando uma língua estrangeira. Mas estou usando esta língua por que é com ela que posso me comunicar com você. E se eu não fosse capaz de me comunicar em Inglês, falaria em qualquer outra língua que eu conheça, e que você também conheça. Algo portanto, mudou em mim.

Antigamente os  swamis nunca deixavam o país. Hindus nunca deixavam sua terra. Nos tempos antigos, devido a sua própria cultura religiosa e suas rotinas diárias, eles pensavam que atravessar o oceano era algo inaceitável. Atravessar o oceano não é problema para mim. Eu cruzo o oceano. Na verdade, eu não cruzo propriamente o oceano, eu apenas me movo pelo céu. Abaixo, calha de estar o oceano. O que posso fazer? Os tempos mudaram e viajar agora também é diferente. Estas são as coisas que devem mudar. Irão mudar. Gostemos ou não, elas irão mudar. E você vê que as pessoas também mudam, embora lentamente. Se os ortodoxos, entretanto, mudarem muito lentamente, as pessoas os deixarão para trás.

As pessoas são dinâmicas. De fato, a nossa cultura diz isso. Certas coisas sempre mudam. Portanto, qualquer que seja a dúvida sobre se uma mudança é válida ou não, o melhor que você faz é consultar uma pessoa que seja bem informada e bem enraizada na tradição. O Veda diz que qualquer que seja a dúvida sobre a sua conduta em uma determinada situação, como,  “Estou abandonando a minha tradição?  Estou  cedendo demais?”, siga por favor uma pessoa informada, que conheça bem a sua tradição. O que ele fizer, siga.  E se ele não estiver na mesma situação que você, siga o que ele disser. Mas certifique-se de que a pessoa a quem você segue seja imparcial, que não lhe dê um conselho do qual ele mesmo seja o beneficiário. Se este for o caso, não siga seus conselhos. Aqueles que estão comprometidos com o dharma, que conhecem o dharma, são as pessoas a quem você deve seguir. Você pode até mesmo segui-las cegamente. Com o tempo você compreenderá.

E portanto, mudar é importante, mas ao mesmo tempo, você deve se certificar de que a mudança não destrua o espírito. Um americano me perguntou a algum tempo, “Swamiji, o que é respeito?” Eu não sabia o que lhe dizer-lhe. O que é respeito? Levantar-se, quando chega alguém, respeito é isto? É algo que cresce com você, pelo qual você precisa ter uma forma.

Na Índia, mostramos respeito através de algumas formas. Pelos mais velhos, nós mostramos respeito. Como você pode mostrar o seu respeito? Quando uma pessoa mais velha se aproxima, você levanta. Isto é apenas uma forma. Respeito é o espírito. A forma é se levantar. Se você abandona todas as formas, onde estará o respeito? Abandonando “Oi”, onde está a afetividade? Se você abandona a forma de apertar as mãos, onde estará a amizade? Ela também irá desaparecer.  Se o espírito estiver presente, a forma parece não ser necessária.   Mas eu afirmo que, se a forma não estiver presente, o espírito morrerá. Morrerá completamente. E se a forma somente estiver presente, também o significado precisará ser instilado, como vem sendo em nossos templos na América do Norte.

Nós agora temos formas. Elas são necessárias. Sem uma forma não pode haver espírito. Você precisa de um templo, um lugar que mantenha a forma da religião. Mas eu lhe digo que esta forma se tornará obsoleta. As crianças não irão saber do que tratam todas estas formas abençoadas, e por que elas devem se levantar e fazer arati, etc. Elas vêem  formas alternativa e haverá definitivamente escolha. Eles querem saber as razões da sua escolha e você não pode explicar.

Portanto, se o espírito não estiver presente, a forma morrerá. Todos estes templos não terão visitantes nas próximas gerações. Quem irá a estes templos, se você não instilar o espírito? Em uma forma de devoção há o espírito.  A forma é necessária, mas ao mesmo tempo às vezes é uma forma resumida, uma forma que seja prática. Uma forma que seja baseada em um pragmatismo estará sempre presente em todas as sociedades. Existindo uma forma, entretanto, nela você precisa instilar o espírito. De outra forma ela será uma forma morta, que não será de nenhuma utilidade. Portanto,o significado é importante. E na forma você pode instilar o significado

Para saber que existe um Senhor, o nosso buddhi, intelecto, é suficiente. É como uma lâmpada de óleo. Para ser um astika, uma pessoa que acredita, você tem luz suficiente para saber que existe um Isvara. Para saber o que é aquele Isvara, o que é aquele Senhor, você precisa de uma luz melhor, que é aquela da queima da cânfora. Quando o sacerdote executa a  arati ele sempre lhe diz para ter darshan, a visão. Então, dos pés até a cabeça do Senhor, ele mostrará a cânfora queimando-se. Então você vê toda a forma. Já não é mais apenas uma crença. É claro como a luz do dia – conhecimento. O que era uma simples crença se converte em uma chama de conhecimento, em uma luz de conhecimento. Este é o espírito. Você precisa instilar o significado, do contrário, a forma não tem sentido. A cânfora é usada por ser uma substância que se volatiliza completamente. Quando queimada, nada é deixado para trás. E, de maneira similar, quando eu me coloco diante do Senhor, aquele conhecimento do Senhor consome a própria pessoa ignorante em mim. Então tudo o que existe é ananda, uma chama de conhecimento somente. E aquele conhecimento deverá também ser total, deve ser completo, não deixando nenhuma ignorância residual ou noção errônea. Por isso  queimamos cânfora.

O ensinamento que estamos desdobrando aqui (neste centro de estudo chamado Arsha Vidya Gurukulam) é o que necessário pois é o ensinamento que deposita o espírito em cada forma. E somente entendendo o significado por detrás da forma que esta torna-se significativa. De outra maneira é uma forma morta.

 A religião Hindu não é organizada. Esta é a maior virtude desta tradição. Meu pai era a organização. Minha mãe era a organização. Eles me deram o que possuo. Você possui o que seus pais lhe deram. Não há profecia, não há papado. Nós não temos coisas assim. Isto significa que a nossa responsabilidade é maior. Você não poderá dizer que “a organização irá cuidar disso”. Não temos este argumento. E você não pode mudar o caráter de uma cultura, de uma religião da noite para o dia. Isto não é possível. E se nós mudarmos para uma organização hierárquica,  torna-se poder. É necessário, porém, haver uma forma organizada de transmitir esta mensagem; o que já é uma coisa diferente. Mas o espírito está sempre sendo transmitido de pessoa a pessoa. E assim, este gurukula será uma instituição a perpetuar esta tradição, de forma a reter o espírito, assim como a forma editada. Lembre-se, a forma editada. De tempos em tempos, a pessoa que ensina precisa estar apta a editar a forma. É assim que a religião Hindu vem sendo preservada até hoje e é assim que ela continuará a ser preservada.