sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Seja o arquiteto de seu próprio futuro


A lei do karma, quando corretamente entendida, é a maior força da vitalidade na filosofia indiana. Faz-nos arquitetos de nosso próprio futuro. Não somos fantoches nas mãos de um poderoso tirano – Deus – que, acredita-se, nos criou fracos e chorosos, para conduzir uma vida de limitações e dores. Se somos fracos ou chorosos é por causa de nossas ações voluntariosas. Em nossa ignorância, nós, no passado, seguimos determinados valores negativos de vida e seus frutos vieram para nós agora para nos dar o padrão das circunstâncias que hoje vivemos.



Não se preocupe. Tenha coragem. Vivendo corretamente hoje, os valores divinos de amor, bondade, tolerância, compaixão etc, estaremos comandando um padrão mais nobre para o futuro. Policiando-nos cuidadosamente, poderemos detectar as tendências erradas em nós e eliminá-las através do esforço constante e consciente. Desenvolva-se de forma positiva e assim torne-se o Deus de sua vida futura. Seja um Deus!


Altar do templo de Sandeepany Sadhanalaya, Bombay



Swami Chinmayananda

domingo, 25 de janeiro de 2015

O sucesso nos Vedas

O sucesso nos Vedas

Nossa vida é um constante relacionar-se. Estamos relacionados com a natureza, a terra, o sol, a lua, relacionados com diferentes pessoas e também com nosso corpo, nossos pensamentos e sentimentos. Na vida diária, relacionamentos é o que é mais importante. Muitas vezes o usamos com um jogo de poder, para controlar outros. Outras vezes é um campo para a experiência de amor e compaixão.








O ser humano é um ser intelectual, cognitivo, à medida que busca entender o mundo ao seu redor. Mas antes de ser cognitivo, é um ser emocional, pois antes mesmo de entender quem são as pessoas com as quais se relaciona, desde bebê, ele responde às situações, e as respostas que dá são nossas emoções. Somos um ser emocional porque lidamos com o mundo, nos relacionando ao longo de nossas vidas com seus vários aspectos, como em situações familiares, sociais, profissionais.

Desde seu nascimento, o ser humano cresce fisicamente, independente de qualquer desejo ou esforço de sua parte. Há também um crescimento cognitivo, no desenvolvimento da capacidade de aprender. Algumas capacidades cognitivas aparecem naturalmente em idades diferentes, apesar de poderem ser estimuladas ou facilitadas. Podem também ser impedidas ou diminuídas por falta de educação ou disciplina. Mas para crescer emocionalmente é necessário conhecer a si mesmo como pessoa e interagir com os outros. Saber lidar com seus sentimentos e emoções. Aprender a discernir entre o que é certo e errado e optar adequadamente. Para isso precisamos conhecer nossos sentimentos e fazer escolhas por relacionamentos claros. Num relacionamento, interagindo com o outro em diversas situações, temos a oportunidade de perceber nossas emoções positivas e negativas e aprender sobre elas, para que possamos transformá-las quando necessário, e não reprimi-las. Aprendemos dentro de um relacionamento claro, seguro, onde há um compromisso de respeitar e honrar o outro, uma valorização do outro e do relacionamento. Aprendemos a comunicar o que sentimos e a ouvir o outro atenta e respeitosamente. Esta capacidade, que é desenvolvida com o tempo, é a maturidade emocional. Ela não vem naturalmente, mas é fruto da dedicação de cada um.

Uma vida de sucesso é aquela na qual há maturidade emocional para promover a paz, a harmonia e a compreensão entre as pessoas, pois a presença desses últimos é a indicação do sucesso. Com essa maturidade, sobra um espaço em nossa mente para a busca de nossa natureza essencial, livre de limitação, sempre plena.

Om tat sat

Gloria Arieira


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Uma vida meditativa

Uma vida meditativa

Gloria Arieira


A vida é um fluxo contínuo de experiências. Nossa vida diária inclui relacionar-se com os outros e consigo mesmo. Não podemos fugir de nos relacionarmos. Quanto mais claros estivermos dentro de um relacionamento, mais saudável e produtor de satisfação será para nós. Buscamos amor, compreensão e compaixão nos relacionamentos, porém nem sempre encontraremos.
Podemos crescer emocionalmente através de nossos relacionamentos, porém quando nos relacionamos buscamos estar confortável, sermos reconhecidos e aceitos. No processo entendemos melhor e acomodamos nós mesmos e os outros, descobrimos fatos a nosso respeito e sobre os outros, e aprendemos que não é possível termos todas as qualidades admiradas e desejadas por si mesmo e pelos outros. Gostamos de pessoas nas quais encontramos maior número de qualidades que admiramos, mas devemos estar preparados para as que inevitavelmente estarão presentes apesar de não aprovarmos. A apreciação ou aprovação absoluta de nós mesmos ou de outra pessoa é uma situação ideal e impossível.









Não podemos evitar as emoções, pois elas são reações naturais às situações diárias da vida. Sejam expressas ou não, qualquer evento nos faz responder com apreciação, repulsão ou indiferença. Reconhece-las e lidar com elas é fundamental para a harmonia e saúde em nossa vida. Entendendo a nós mesmos e aos outros, reconhecendo nossas emoções e pensamentos, temos o poder de gerenciá-los criando um ambiente de equilíbrio ao nosso redor.



Estar consciente desses fatos e preparado para vivê-los é considerado um estilo de vida chamado de yoga. Além desta vida meditativa, a prática diária de meditação é outro fator importante, falado por Sri Krshna na Bhagavadgita.



A meditação é a capacidade de estar consigo mesmo, tanto a pessoa relativa que você é, como na descoberta do ser fundamental, sua real natureza. É um momento reservado no dia. Logo depois de estar sentado, de olhos fechados e coluna, pescoço e cabeça em alinhamento, o seu corpo e, a seguir, a respiração são observados. Depois de estarem o corpo e a mente relativamente relaxados, criamos uma relação com o Todo através do canto de um mantra, que é uma oração através da qual o Criador é invocado. No processo de repetir o mantra, chamado de japa, a mentre se destrai, pensa em outras coisas, e a pessoa até esquece, por alguns segundos, que estava meditando. Aconselha-se a voltar ao mantra toda vez que a mente se distrai, o que nos ajuda a entender melhor a natureza relativa de nossa mente, sua constante mudança e a dificuldade que é segurar os pensamentos. Mesmo quando pensamentos vários aparecem, deliberadamente os deixamos de lado, junto com julgamentos e críticas, e focamos no silêncio imutável sempre presente. Podemos perceber, entre os pensamentos, a presença do silêncio, e aos poucos descobrimos que este não está entre pensamentos, mas que  é a base, o próprio sujeito. Quando em silêncio, este é experienciado não como algo externo, que vem e vai, mas como algo sempre presente. O silêncio é a paz independente da presença ou ausência de pensamentos.  Esta capacidade de estar consigo mesmo, sem crítica nem desejo de ser diferente, permite apreciar a paz e a satisfação inerente a si mesmo. A meditação é uma prática que faz parte de uma vida meditativa onde cada momento que é vivido, com deliberação e clareza, faz diferença, colaborando para o autoconhecimento – objetivo mais elevado da vida humana.







segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A tristeza de Arjuna

Em Fevereiro de 1994, Sri Swami Dayananda é perguntado sobre a tristeza de Arjuna, em um satsanga nos Estados Unidos.

A TRISTEZA DE ARJUNA
Pergunta:  Swamiji, o senhor analisaria, por favor, a diferença entre a tristeza de Arjuna e a tristeza de uma pessoa normal?

Swamiji - A tristeza de Arjuna nasceu de um conflito entre os seus  sentimentos e a chamada ao dever.  
Por um lado, ele achava que tinha de lutar contra pessoas  que conhecia e  respeitava, pessoas que eram ligadas a ele, ou por laços de sangue ou porque fossem amigos ou conhecidos.
A luta surgiu como o resultado de dois fatores:  vingança e dever.
O sentimento de vingança sentido por Arjuna, ao chegar ao campo de batalha, desvaneceu-se quando ele considerou a enormidade da destruição envolvida.  Arjuna sabia que haveria muita destruição no seu próprio campo, e, como esperava vencer, a expectativa de destruição para o outro lado era total.  Para vencer, teria que destruir todo o exército de seu oponente.  A estimativa de Arjuna do resultado era puramente pragmática.  E, com esse ponto de vista, esperava começar a batalha.


Sri Krshna e o arqueiro e príncipe Arjuna

Arjuna sabia muito bem que Duryodhana não se renderia.  Definitivamente, esse não era o seu tipo, mesmo se tal ação fosse concebível, o que naqueles dias não o era.  Ele lutaria até ao fim, até ao último homem.  Arjuna sabia que uma total destruição do outro lado significaria a destruição de seu próprio mestre, Drona, assim como a de Bhisma, nobre ancião da família, altamente respeitado.  Este era o problema de Arjuna.

O problema era mais complexo para Arjuna porque havia uma questão de dever envolvida.  Duryodhana tinha usurpado o reino que aos Pandavas competia governar.  O irmão mais velho de Arjuna, Dharmaputra, era o rei, ainda que estivesse no exílio.  Era seu dever proteger o Dharma, juntamente com seus irmãos, os príncipes coroados.  Duryodhana tinha desconsiderado o Dharma por todos os meios possíveis. 
De qualquer modo que olhemos as ações de Duryodhana, mesmo aquelas de sua infância, elas sempre foram questionáveis.  Certamente, num passado recente, ele se portara de modo bastante impróprio.
Face a essa situação, que escolha tinha Arjuna?  Nenhuma.  Tinha que lutar. O dever o chamava, e dever nada tem a ver com nossos sentimentos.  Por conseguinte, pelo fato de que os sentimentos de Arjuna entraram em conflito com o seu dever, havia tristeza.  Se nos colocarmos em uma situação onde temos que nos destruir mutuamente, haverá, sem dúvida nenhuma, tristeza.  Este é o sentimento de uma pessoa normal, que é suficientemente amadurecida para avaliar o que representa o seu dever, mas que, ao mesmo tempo, tem as naturais emoções humanas.
A tristeza de Arjuna, como tristeza, não perdurou.  Tornou-se alguma coisa deveras diferente.  Primeiramente, ele sucumbiu e, em seguida, indo além da guerra, dos reinos, do Dharma e Adharma, ele quis saber o sentido de tudo isso.  Arjuna era uma pessoa especial, que vivia uma vida de integridade moral.  Não precisava por-se à prova para ninguém.  Sua tristeza era a tristeza de uma pessoa amadurecida que se sentia sem qualquer controle sobre as situações de sua vida.  Arjuna queria evitar a luta em razão da destruição envolvida, mas não podia - uma situação, na verdade, muito sombria.
Sua tristeza levou-o à apreciação de certo problema humano fundamental.  Por essa razão, ele solicitou o conhecimento que resolveria este problema.

A tristeza de Arjuna não se assemelhava, por exemplo, à dor de depressão.  A depressão nasce da raiva, da raiva da infância.  Não existe tal coisa como uma depressão originária do presente.  Qualquer um que esteja deprimido, definitivamente, encontra-se assim em razão de uma raiva relacionada à infância.  Qualquer coisa acontecida, ontem, na vida de um adulto, realmente não causa depressão.  A depressão surge devido a uma formação de raiva progressiva, oriunda da infância.  Por conseguinte, a raiva é a causa da depressão, e a raiva em si mesma é originada por algum tipo de profunda dor.  Quando essa dor, na forma de mágoas, culpas, e várias outras coisas, desenvolve-se, vem a depressão.

Depressão não era o problema de Arjuna.  O problema de Arjuna é aquele no qual as realidades têm de ser devidamente entendidas.
O problema tem de ser tratado de duas formas:
primeiro, ao nível de onde ocorre, 
e também tem de ser conduzido de um modo cognitivo.


O problema de Arjuna é sobretudo um problema ético, moral e espiritual.  Naturalmente, todos os problemas têm algum conteúdo emocional.  E, por isso, são problemas.
Problemas - outros que não sejam o de Arjuna - são todos problemas emocionais.  Aqui, embora o problema seja também emocional, a moralidade é predominante, não a emoção.  De fato, a diferença entre as duas espécies de problemas depende do que predomina - a emoção ou a moralidade, estando ambos os fatores ligados ao ser.

Na depressão, o ser está também envolvido, desde que a depressão implica numa certa avaliação de si mesmo que não é verdadeira.  Por conseguinte, pode-se resolver o problema fundamentalmente, se pudermos com ele lidar e compreendê-lo.  O problema que aqui estamos discutindo - o problema de Arjuna - pode e deve ser solucionado de modo fundamental.
Arjuna tinha que reavaliar, por completo, seu pensamento.  Cognitivamente, ele tinha de mudar tanto a visão de si-mesmo e do mundo,  como as suas noções acerca da morte e da destruição.  Tudo tinha que ser reexaminado.