Pujya Swamiji, com alunos do segundo curso de Vedanta, em Rishikesh, nos anos 70 |
Pergunta: Qual é o seu conceito de moksha?
Swamiji: O meu conceito de moksha é liberação do sentido de
limitação e da sensação de dependência de felicidade e de segurança. Esse
conceito não é meu, é o conceito de Vedanta.
Pergunta: Isso significa liberação do materialismo?
Swamiji: Liberação da
sensação de inadequação.
Pergunta: A inadequação pode ser especificada. A minha
inadequação pode ser o fato que eu não tenha uma alta posição social. Para
algumas pessoas, pode ser o fato de não terem dinheiro suficiente. Uma pessoa
pode dizer que precisa de um tanto, e eu posso dizer que preciso de um pouco
mais.
Swamiji: É tudo a mesma
coisa. Você está falando do seu conceito de adequação, você está aceitando a
inadequação de qualquer jeito. Você pode achar que tendo mais dinheiro você se
sentiria adequado. Um outro pode achar que se tivesse mais poder ele se
sentiria adequado, e outro se tivesse fama. Uma outra pessoa poderia desejar um
título, posição, ou qualquer outra coisa, mas no fundo todos tem um sentido de
inadequação.
Pergunta: O problema da inadequação precisa de...metafísica…alma…meditação?
Swamiji: Podemos admitir o seguinte: que existe uma
autoconsciência, e consequentemente autojulgamento. O julgamento universal é
“eu sou inadequado”. E quando eu me considero inadequado, eu não suporto isso e
portanto existe uma pressão natural para que eu me torne adequado. De acordo
com o seu conceito de inadequação, existe algo que faria com que você se
sentisse adequado, e essa coisa varia de pessoa para pessoa. Evidentemente,
seria impossível para você se sentir adequado, uma vez que a inadequação mais
alguma outra coisa, ainda seria inadequação.
Quando você avalia um ganho, levando em conta a perda
envolvida, esse ganho não será tão grande assim, uma vez que em todo ganho
existe uma perda. Todo ganho é seguido de uma perda. Você consegue algo somente
quando você investe algo, e dessa forma você descobre que, no mundo relativo,
todo ganho envolve algum nível de perda. Sendo assim, obviamente, a inadequação
continua existindo e essa é a experiência de todos, sem exceção.
A questão que surge então é se a necessidade de ser adequado
é uma coisa natural ou não. É um desejo, uma necessidade natural, e ninguém
consegue controlar isso, mesmo porque ninguém se ‘torna’ adequado. Eu não posso
parar de lutar contra a inadequação, e, portanto, eu preciso achar uma solução.
E se essa solução não está disponível empiricamente, eu vou chegar necessariamente
à questão: “Serei eu realmente inadequado? A inadequação é meramente um ponto
de vista”?
Suponhamos que a inadequação em si seja apenas um julgamento
baseado em um ponto de vista e eu o esteja considerando absoluto. Suponhamos
que o ponto de vista faça com que eu seja inadequado, me veja como inadequado,
então isso é um problema somente meu; se uma outra coisa é inadequada, isso não
é problema meu, não é um problema focado no “eu”. Assim, se existir uma inadequação focada no
“eu” - eu sou inadequado. Portanto, eu
tenho que descobrir a mim mesmo como ‘adequado’.
Não existe uma maneira de eu descobrir adequação por mim
mesmo através de riquezas, poder ou qualquer outra coisa, porque qualquer ganho
será inadequado, e, portanto, “eu” mais alguma coisa ainda será inadequado.
Inadequado mais inadequado é igual a inadequado. Finito mais finito é finito do
mesmo jeito. Portanto, através da inadequação não tenho nenhuma possibilidade
de atingir a adequação para mim mesmo. A minha necessidade é natural, e eu não
aguento mais ser inadequado; a sensação de inadequação é algo com o qual eu não
consigo viver bem. Assim sendo, talvez eu deva descobrir que eu não preciso “me
tornar” adequado. Tornar-se adequado não faz sentido. Talvez eu já seja
adequado. Basta dizer esse ‘talvez’. Talvez eu seja adequado.
Portanto, a questão toda está de novo com você mesmo. Então
você pode perguntar: ‘quem sou eu’? E então a questão se torna metafísica.
Pergunta: Será que a estrutura social como um todo é de uma
forma tal onde todos se sintam inadequados?
Swamiji: A questão de se
sentir inadequado é um problema individual. Afinal, quando você se acha
inadequado ou a sociedade está projetando inadequação em você, é inadequação de
qualquer jeito. O que eu estou querendo dizer é que mesmo que não existisse a
sociedade, o sentido de inadequação ainda existiria.
Eu gostaria de saber como é que você se vê, o que é o ser?
Suponhamos que você diga que você é o corpo físico, então decididamente você é
inadequado. Se você disser que você é a mente, você decididamente é inadequado
também. Se você disser: “Eu sou o conhecimento que eu acumulei”, decididamente
você é inadequado, porque o conhecimento nunca chega a ser adequado. Assim, de
qualquer forma que você olhe para si mesmo, haverá inadequação, esse é o
julgamento básico. Primeiro você julga a você mesmo e depois olha para si mesmo
através dos olhos da sociedade. Você olha para outra pessoa e se essa pessoa é
admirada, ou considerada mais bonita, você logo cria um complexo. E se uma
outra pessoa for mais bem-sucedida, você cria outro complexo.
Pergunta: Você está tentando dizer que existe ignorância de si
mesmo?
Swamiji: Sim, eu nasci com ignorância e ela tem dois aspectos:
um é a ignorância de mim e a outra é a ignorância de tudo o mais. Eu possuo
meios de conhecimento, tais como percepção, inferência, etc. para conhecer as
coisas além de mim, que não são eu. Mas a auto ignorância continua. Você não
precisa de autoconhecimento para acionar os demais meios de conhecimento. Você
pode ser um cientista famoso sem ter autoconhecimento, e nesse quesito não há
distinção entre os seres humanos e os animais.
Om Tat Sat