quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O Aniversário de Gaṇeśa

Gaṇeśa Caturthī - dia 17 de setembro de 2015

Por Patrick van Lammeren




Hoje, 4º dia depois da Lua Nova do mês hindu de Bhādrapada, comemora-se o nascimento de Gaṇeśa, o Removedor dos Obstáculos.

É dito que neste dia não se deve olhar para a Lua - apesar dela estar sempre muito bonita, como um sorriso no céu poente. Em um de seus aniversários, Gaṇeśa foi visitar sua mãe, que o encheu de moḍaka, seu doce favorito. Gaṇeśa, tão guloso, comeu tudo o que podia, até ficar empanzinado. Já com o Sol se pondo, resolveu voltar para a sua casa, antes que a noite caísse. Montou em seu rato, e adentrou a floresta.

Porém, eis que surgiu uma serpente, assustando o rato que acabou por jogar Gaṇeśa ao chão. Com o impacto, sua barriga extremamente cheia de moḍaka se rompeu, fazendo com que todos os doces rolassem para fora! Rapidamente, Gaṇeśa pegou todos os moḍaka e os colocou de volta em sua barriga; pegou a serpente e a enrolou em torno de seu corpo, fazendo dela um cinto que manteve sua barriga fechada novamente.

Vendo tudo isso, Candra, a Lua, achou tudo aquilo muito engraçado e desatou a gargalhar. Enfurecido, Gaṇeśa quebrou uma de suas presas e a arremessou contra Candra, o furando. É dito que, se olharmos com atenção, vemos o furo que o dente de Gaṇeśa fez nele - a mais notável de suas crateras, chamada atualmente de Tycho. Além disso, Gaṇeśa o amaldiçoou, dizendo que perderia seu brilho totalmente, o que de fato ocorreu!

Candra ficou desolado. Como ele, que ilumina de noite com sua luz prateada, que nutre as plantas, permeando suas seivas e garantindo a alimentação de todos os seres, poderia ficar sem brilho??

Foi, então, tentar resolver o problema com Brahmā, o criador. Diante da situação, Brahmā disse para que ele tentasse apaziguar Gaṇeśa, realizando inúmeras disciplinas em seu nome para que pudesse se redimir de seu erro.

De acordo, Candra passou muito tempo realizando asceses diversas, sempre com Gaṇeśa em mente, até que finalmente suas ações deram resultado. Gaṇeśa foi ao seu encontro, se disse muito satisfeito, mas que não teria como retirar sua maldição, por ter valor pela verdade - caso a tirasse, seria como se tivesse mentido, então. Por outro lado, ele poderia complementar o que havia dito, apaziguando os efeitos da maldição. Com isto, Gaṇeśa manteve o fato de que Candra perderia completamente seu brilho, mas acrescentou que isto ocorreria de vez em quando, ciclicamente, resultando nas fases da Lua.

Mais ainda, Gaṇeśa pegou Candra e o colocou em sua cabeça, o utilizando como uma bela jóia, brilhando sempre diante dos olhos de todos os seus devotos.

Gaṇeśa representa o Todo, a própria Ordem Cósmica que mantém todo o Universo funcionando e que, por isso mesmo, inclui a nós mesmos. Sua grande barriga é como todo o Universo, que se mantém coeso e harmônico devido unicamente ao poder de Gaṇeśa - por isso todos os moḍaka que saem de sua barriga rompida são recolocadas nela, e uma serpente - símbolo de Śakti, todo o poder - é utilizada para manter a barriga inteira.

Esta visão de que há uma unidade no Universo e que há uma Ordem que a tudo permeia é uma grande bênção para o indivíduo, sendo um dos objetivos de uma vida de Yoga. Porém, devido à confusão e ignorância, os indivíduos são tomados pelas expectativas, desejos e emoções, incapazes de ter esta visão tão incrível.

A Lua representa a mente emocional e oscilante, variando em extremos constantemente, e por isso Candra representa esta mente tomada de ignorância e confusão, que ri e desconsidera a visão de uma Unidade. O resultado é apenas sofrimento e escuridão.

Ao mesmo tempo, a história ensina que há uma maneira de ir além destes obstáculos, através de uma vida de Yoga. Disciplinando a mente, trazendo Gaṇeśa constantemente a seu pensamento, o indivíduo é capaz de lidar adequadamente com suas emoções e desejos, ir além da sensação de separação com o Universo e compreender este Todo que a tudo permeia, abrindo as portas para o autoconhecimento e a liberação de todo o sofrimento. Tal indivíduo é chamado sábio, que está além das emoções, o que não significa que ele deixe de tê-las. Como Candra, que deixa de permanecer na escuridão, mas oscila frequentemente, o sábio permanece com suas emoções, mas ao invés delas serem uma causa de sofrimento e aprisionamento, agora elas são como um adorno, embelezando uma vida repleta de conhecimento, e por este motivo Gaṇeśa coloca em sua própria cabeça a Lua crescente, representando a maestria que o sábio adquire sobre a mente.

Então, é dito que não se deve olhar para a Lua, não como uma superstição tola, mas como uma forma de meditação nesta história e como oração a Gaṇeśa, para que ele nos abençoe com discriminação, conhecimento e a capacidade de remover o maior dos obstáculos, que é a ignorância a respeito de si mesmo.

Feliz Gaṇeśa Caturthī!

Jaya Mahāgaṇapati!

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