Em Fevereiro de 1994, Sri Swami Dayananda é perguntado sobre a tristeza de Arjuna, em um satsanga nos Estados Unidos.
A
TRISTEZA DE ARJUNA
Pergunta:
Swamiji, o senhor analisaria, por favor, a diferença entre a tristeza de
Arjuna e a tristeza de uma pessoa
normal?
Swamiji
- A tristeza de Arjuna nasceu de um
conflito entre os seus sentimentos e a
chamada ao dever.
Por um lado, ele
achava que tinha de lutar contra pessoas
que conhecia e respeitava,
pessoas que eram ligadas a ele, ou por laços de sangue ou porque fossem amigos
ou conhecidos.
A luta
surgiu como o resultado de dois fatores:
vingança e dever.
O
sentimento de vingança sentido por Arjuna,
ao chegar ao campo de batalha, desvaneceu-se quando ele considerou a enormidade
da destruição envolvida. Arjuna sabia que haveria muita
destruição no seu próprio campo, e, como esperava vencer, a expectativa de
destruição para o outro lado era total.
Para vencer, teria que destruir todo o exército de seu oponente. A estimativa de Arjuna do resultado era puramente pragmática. E, com esse ponto de vista, esperava começar a
batalha.
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Sri Krshna e o arqueiro e príncipe Arjuna |
Arjuna sabia muito bem que Duryodhana não se renderia. Definitivamente, esse não era o seu tipo,
mesmo se tal ação fosse concebível, o que naqueles dias não o era. Ele lutaria até ao fim, até ao último homem. Arjuna
sabia que uma total destruição do outro lado significaria a destruição de seu
próprio mestre, Drona, assim como a
de Bhisma, nobre ancião da família,
altamente respeitado. Este era o
problema de Arjuna.
O
problema era mais complexo para Arjuna
porque havia uma questão de dever envolvida.
Duryodhana tinha usurpado o
reino que aos Pandavas competia
governar. O irmão mais velho de Arjuna, Dharmaputra, era o rei, ainda que estivesse no exílio. Era seu dever proteger o Dharma, juntamente com seus irmãos, os príncipes coroados. Duryodhana
tinha desconsiderado o Dharma por
todos os meios possíveis.
De qualquer
modo que olhemos as ações de Duryodhana,
mesmo aquelas de sua infância, elas sempre foram questionáveis. Certamente, num passado recente, ele se
portara de modo bastante impróprio.
Face a
essa situação, que escolha tinha Arjuna? Nenhuma.
Tinha que lutar. O dever o chamava, e dever nada tem a ver com nossos
sentimentos. Por conseguinte, pelo fato
de que os sentimentos de Arjuna
entraram em conflito com o seu dever, havia tristeza. Se nos colocarmos em uma situação onde temos
que nos destruir mutuamente, haverá, sem dúvida nenhuma, tristeza. Este é o sentimento de uma pessoa normal, que
é suficientemente amadurecida para avaliar o que representa o seu dever, mas
que, ao mesmo tempo, tem as naturais emoções humanas.
A
tristeza de Arjuna, como tristeza,
não perdurou. Tornou-se alguma coisa
deveras diferente. Primeiramente, ele
sucumbiu e, em seguida, indo além da guerra, dos reinos, do Dharma e Adharma, ele quis saber o sentido de tudo isso. Arjuna
era uma pessoa especial, que vivia uma vida de integridade moral. Não precisava por-se à prova para
ninguém. Sua tristeza era a tristeza de
uma pessoa amadurecida que se sentia sem qualquer controle sobre as situações
de sua vida. Arjuna queria evitar a luta em razão da destruição envolvida, mas
não podia - uma situação, na verdade, muito sombria.
Sua
tristeza levou-o à apreciação de certo problema humano fundamental. Por essa razão, ele solicitou o conhecimento
que resolveria este problema.
A tristeza
de Arjuna não se assemelhava, por
exemplo, à dor de depressão. A depressão
nasce da raiva, da raiva da infância.
Não existe tal coisa como uma depressão originária do presente. Qualquer um que esteja deprimido,
definitivamente, encontra-se assim em razão de uma raiva relacionada à
infância. Qualquer coisa acontecida,
ontem, na vida de um adulto, realmente não causa depressão. A depressão surge devido a uma formação de
raiva progressiva, oriunda da infância. Por conseguinte, a raiva é a causa da depressão,
e a raiva em si mesma é originada por algum tipo de profunda dor. Quando essa dor, na forma de mágoas, culpas,
e várias outras coisas, desenvolve-se, vem a depressão.
Depressão
não era o problema de Arjuna. O problema de Arjuna é aquele no qual as realidades têm de ser devidamente
entendidas.
O problema tem de ser
tratado de duas formas:
primeiro, ao
nível de onde ocorre,
e também tem de ser conduzido de um modo cognitivo.
O
problema de Arjuna é sobretudo um
problema ético, moral e espiritual. Naturalmente,
todos os problemas têm algum conteúdo emocional. E, por isso, são problemas.
Problemas - outros que não sejam o de Arjuna - são todos problemas
emocionais. Aqui, embora o problema seja
também emocional, a moralidade é predominante, não a emoção. De fato, a diferença entre as duas espécies
de problemas depende do que predomina - a emoção ou a moralidade, estando ambos
os fatores ligados ao ser.
Na
depressão, o ser está também envolvido, desde que a depressão implica numa
certa avaliação de si mesmo que não é verdadeira. Por conseguinte, pode-se resolver o problema
fundamentalmente, se pudermos com ele lidar e compreendê-lo. O problema que aqui estamos discutindo - o
problema de Arjuna - pode e deve ser
solucionado de modo fundamental.
Arjuna
tinha que reavaliar, por completo, seu pensamento. Cognitivamente, ele tinha de mudar tanto a
visão de si-mesmo e do mundo, como as
suas noções acerca da morte e da destruição.
Tudo tinha que ser reexaminado.